terça-feira, 5 de maio de 2009

Alterações na poupança geram dúvidas e causam polêmica


As mudanças na poupança preocupam investidores e causam polêmica. O governo busca uma solução que possibilite manter um rendimento que “proteja” o pequeno poupador, mas que, por outro lado, não incentive a saída de aplicadores de fundos de investimentos e Certificados de Depósito Bancário (CDBs, título de renda fixa emitido por bancos comerciais).

Com a decisão do Comitê de Política Monetária (Copom) do Banco Central (BC), que, na semana passada, reduziu a taxa básica de juros (Selic), de 11,25% para 10,25% ao ano, a caderneta se torna mais atraente.

“Como o BC tem atuado no sentido de diminuir os juros, os fundos de aplicação se tornam menos atrativos do que a poupança. Logo, há uma tendência de migração dos recursos de um para o outro”, explica o coordenador do Núcleo de Estudos de Política Monetária do Ibmec, Claudio Shikida. “A migração provocaria um desequilíbrio no mercado financeiro, posto que os recursos alocados nessas aplicações são destinados ao crédito para consumo. Assim, as mudanças são necessárias caso a taxa básica de juros continue em declínio”, afirma o professor da Fundação Dom Cabral (FDC) Haroldo Mota.

Alternativas
A diarista Dina da Silva Rocha Coelho, casada com Marcelo e mãe de José Augusto, de 2 anos, faz toda a economia possível para no fim do mês depositar a metade do seu salário na poupança. “Fiz isso para pagar meu casamento. Há três anos, junto para comprar minha casa própria. Sei que vai demorar, mas também sei que esse é o caminho”, conta. Ela diz que as notícias sobre possíveis modificações na poupança trouxeram preocupação. “As mudanças podem atrapalhar meu sonho. É com muito sacrifício e luta que junto meu dinheiro”, pondera.

Tentando tranquilizar o investidor comum, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva disse que “jamais tomaria qualquer medida que prejudicasse as pessoas que investem na poupança”. A primeira alternativa discutida, e que conta com apoio na área política do governo, é punir grandes aplicadores cobrando Imposto de Renda (IR) a partir de um determinado valor. Chegou-se a falar em R$ 100 mil. O imposto, porém, só poderia incidir a partir de 2010 e não resolveria o problema da migração de dinheiro dos fundos para a poupança. Também foi levantada a possibilidade de criar uma contribuição, que entraria em vigor em 90 dias.

Já a equipe econômica defende o fim da Taxa Referencial (TR) e a criação de um percentual da Selic como rendimento da poupança, no formato em que os bancos fazem com os CDBs. A ideia seria instituir um percentual como 55% da Selic, que daria um rendimento líquido, por exemplo, de 5,6% ao ano, sendo que hoje o rendimento fica em torno de 6,17%.

O problema, apontado pela área política, é que a definição do percentual impactaria dois pontos sensíveis. O primeiro é o financiamento imobiliário, já que 65% dos recursos vão para o setor. O outro é a correção do Fundo de Garantia do Tempo de Serviço (FGTS), fonte de recursos para obras de infraestrutura e de saneamento. Outra possibilidade seria criar diferentes faixas de rendimento.

A proposta que ganha força, no entanto, é a que limita a entrada de grandes depósitos na poupança. A instituição de um teto seguiria os moldes do Tesouro Direto, títulos do governo, em operações limitadas a R$ 400 mil. Para Shikida, existem duas explicações que tentam “adivinhar” as motivações do governo.

“Uma delas é a preocupação com o pequeno poupador, a outra, que o governo não quer perder recursos para continuar se endividando. Historicamente, a poupança tem rendido menos do que os fundos. Historicamente, também, o governo não tem seguido uma trajetória consistente de tentar diminuir seu gasto público”, pondera. Se a intenção é favorecer o pequeno poupador, o adequado, na opinião dele, seria forçar a redução das taxas que os administradores de fundos cobram.

Raio-X
A facilidade em investir na poupança torna-a instrumento ideal de aplicação para o pequeno ou investidor conservador. Ao contrário de outras aplicações, não é cobrada taxa de administração nem impostos. Levado em consideração somente o rendimento, contudo, a poupança ainda não compensa. O economista-chefe da Ativa Corretora, Arthur Carvalho, dá a dica. Para a operação ser vantajosa basta fazer a conta: poupança mais taxa referencial tem que ser maior do que a rentabilidade do fundo menos o Imposto de Renda e taxa de administração.

A vida do pequeno investidor que aplica em fundos, contudo, deve ficar mais difícil. Para esse público, as taxas de administração passam de 4% ao ano e corroem boa parte da rentabilidade. Assim, para ganhar da poupança, será preciso, agora, investir em fundos com taxa de administração igual a 1% ao ano, ou menos que isso. O problema é que esses fundos só estão disponíveis para investidores com aplicação média de R$ 85 mil.

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