quarta-feira, 6 de janeiro de 2010

Acidente em Angra dos Reis poderia ter sido evitado


No que tange ao acidente ocorrido em Angra dos Reis (Rio). Um local prestes a ocorrer desabamentos, porém sempre depois da tragédia é que as pessoas se mobilizam para solucionar os problemas.

O Conselho de Engenharia, Arquitetura e Agronomia do Rio de Janeiro (Crea-RJ) defendeu a criação de um órgão estadual nos moldes do Geo-Rio municipal, voltado para a prevenção de tragédias como a ocorrida em Angra dos Reis, no dia 1º de janeiro. Para o Crea, prever onde a terra poderá descer, soterrando casas, estradas e pessoas é muito difícil, mas uma ação preventiva permanente ajuda a reduzir as ocorrências e poupar vidas e destruição do patrimônio.

"Ninguém desconhece que o inverno é época de estiagem e o verão é a estação das chuvas. Na cidade do Rio, nos anos 60, chuvas torrenciais derrubaram um prédio de 12 andares em Laranjeiras e várias casas em outros bairros. Foi tão assustador que o governo criou a empresa de geotécnica para detectar possíveis problemas futuros e promover as obras de contenção", disse o presidente do conselho, o engenheiro agrônomo Agostinho Guerreiro.

A falta de uma cultura preventiva para esse tipo de tragédia também foi criticada pelo presidente do Crea-RJ. "Infelizmente, o Brasil não tem uma cultura preventiva, todo ano as chuvas se repetem em algum lugar do País, e toda década registramos pelo menos uma tormenta de grandes proporções", disse, ressaltando que o Estado do Rio se caracteriza por baixadas e regiões serranas agredidas em seu meio ambiente.

"Não podemos nem avaliar as agressões de 20 anos atrás, porque a preocupação ambientalista era muito diferente. Mas hoje sabemos que 90% da Mata Atlântica, por exemplo, já se foram, pela ação predatória. Essas condições do solo do Estado tornam o debate ainda mais sério", afirmou.

Agostinho Guerreiro disse ainda que a região de Angra dos Reis e Paraty apresenta um problema adicional, a situação fundiária. Quando dirigiu o escritório fluminense do Instituto Nacional de Colonização e Reforma Agrária (Incra), em meados dos anos 80, ele promoveu o levantamento das terras no Estado.

"Nada menos de 70% dos conflitos fundiários no Estado estavam na região de Angra e Paraty. Eram disputas por terras devolutas, heranças, posse e propriedade da terra, muitas vezes com enfrentamentos e mortes", afirmou.

A questão fundiária começou a se mostrar problemática ainda nos anos 70, quando foi aberta a rodovia Rio-Santos, que deu acesso às terras e às praias da região. A estrada cumpria um objetivo estratégico do governo militar, o programa nuclear com suas três usinas projetadas. Mas, com ela, surgiram as verdadeiras batalhas judiciais pela terra onde se ergueram ao longo do tempo as casas de luxo, os condomínios privados, hotéis e as pousadas como a Sankay, soterrada na primeira madrugada do ano.

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